segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A página que nunca foi lida

  É, eu não gostava de ler, era uma criança normal (risos) meu irmão não, sempre comprava, ganhava lia e relia livros, livros diversificados, com histórias e escritores diferentes. Meu irmão sempre me dizia para ler.
-Ranita, larga de brincar um pouco e se dedique a leitura! você viajará mais do que viaja com as suas brincadeiras...
Poxa, ele falava aquilo com tanta convicção, com uma empolgação incrível, mas como algumas palavras misturadas poderiam fazer alguém viajar!?
Meu irmão sempre ia em uma livraria de livros usados dirigida por um casal de idosos, que falavam a mesma língua que ele. Mas eu não. Eu achava os livros legais; eles num canto e eu no outro.Mas então de surpresa, ganhei um livro do meu irmão. Eu encantei com a capa, era de um menino em cima de um mundo, um príncipe, um pequeno príncipe. Aquele livro ficou na minha estante por vários meses, e eu olhava a capa e folheava o livro só pra ver se tinha mais gravuras, e quando eu pensava ''vou ler'' eu olhava o tanto de página e logo ia brincar.De tanto brigarem comigo, eu verdadeiramente peguei o livro pra ler, li a biografia do escritor, não entendi nada, mas quando eu ia entrar na história.
-Ranita, Ranita, oh Ranita! Vamos brincar! Minhas amigas interrompiam, sempre era assim.
Em um final de semana qualquer- não tão qualquer assim- a rua onde eu brincava estava quieta, meus pais dormiam em plena tarde de domingo e meu irmão, como de costume lia um livro, minhas amigas estavam viajando, eu queria viajar também, mas como? nem saia da rua de cima da minha casa. Ah, aquele livro me perseguia! Eu vi dois caras estranhos comentando sobre o livro e eles terminavam a frase um do outro, parecia que era combinado.
Enfim peguei esse bendito livro que me perseguia dia e noite. Já que havia lido a introdução, pulei logo para história antes que alguém me interrompesse.No começo, eu confesso que foi entendiante, mas já na décima quinta página comecei a me envolver com o livro, mas não conseguia ler dez páginas no mesmo dia, era o primeiro livro que eu lia, no máximo era três páginas por dia que eu conseguia ler.O livro era um pouco grande, mas eu não ligava para as páginas, pois as páginas já haviam me domado, mesmo minhas amigas me chamando pra ir brincar, eu não aguentava deixar de ler mais um trecho e outro e mais outro, seria como se uma mãe tivesse abandonado o próprio filho, talvez seria a mesma dor se eu abandonasse aquele livro, então deixei as amigas de lado e fiquei com o meu filho, quer dizer, o livro.
Algum tempo depois faltavam só duas páginas pra o terminar, mas como o livro vem de uma livraria de livros usados, obviamente o livro era usado, pior, a ultima página estava colada.
       E agora como vou saber o final? Demorei muito pra ler esse livro, como eu vou descolar essa pagina? Vai que em vez de descolar ela rasga.
Então eu vi que não havia solução e comecei eu mesma fazer o meu final  e tentando imaginar se era igual a do livro, li o livro três vezes ainda durante a minha infância, até cheguei a colocar a página contra o sol pra ver se via algo, mais nada, parecia que não era pra me ver mesmo, o primeiro livro que li e não sei do final, que triste não?.
E logo abandonei o livro, mais não o final, cujo nem sabia e voltei a ser uma criança normal.Já na adolescência, em uma livraria eu vi o mesmo livro que li há anos atrás, empolgante eu abri na ultima página, por sorte não estava colada, mas não havia nada escrito, pensei em todo tipo de final menos esse, uma página em branco, atordoada e decepcionada sentei no chão da livraria, revoltada colei a ultima página daquele e de todos os livros daquela livraria, fiz o mesmo que fizeram comigo um dia, não eu não sou má e nem vingativa, apenas estou fazendo o meu próprio final de uma página que nunca foi e nunca será lida.

3 comentários:

  1. Legal. Me fez pensar no meu primeiro livro. Eu não era uma criança normal (rsrsrs) sempre gostei de livros. Desde de pequena.
    Mas acho que meu primeiro livro (sem gravuras, só com letras mesmo) foi o "Meu Pé de Laranja Lima". Como eu chorei com o final!
    Teria ficado mesmo bem frustrada se a última página estivesse em branco.

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  2. Moço eu sou apaixonada por livros, então sou até suspeita pra comentar sobre seu post hehe. E seu post demostrou muito o livro em relação a fase que a gente vive né, infancia, adolescencia, como a empolgação, o sentimento que colocamos em cada página mudam, mto. bom.

    to te seguindo


    talvez vc curta meu blog

    http://www.pequenosdeleites.blogspot.com

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  3. Obrigado, fico lisonjeado com os elogios.Kelly, vou olhar teu blog imediatamente.

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