quarta-feira, 18 de maio de 2011

E se o amor não for um mito?

Na estação de trem daquela pacata vila chamada Santa Maria, havia muitas pessoas, parentes esperando conhecidos ou outros parentes que logo desembarcariam do trem que se aproximava, esperavam ansiosamente pelos seus entes queridos. Se ouve então o barulho confortante dos corações angustiado, o trem vinha vindo, diminuindo a sua velocidade, as pessoas se acumulam na beira do vagão, espremendo-se, lutando por uma brecha se quer de espaço, o trem chega, abre-se suas portas,  e então o tão esperado momento chega, ouvi-se de longe os choros, mãe reencontrando o filho que saiu para estudar, irmão reencontrado irmão e por ai não para o grau de parentesco. O último a desembarca do trem era um sujeito estranho, não havia ninguém ali para fazer uma boa recepção ou alguma saudação como ‘’seja bem vindo’’, era estranho, não só o rapaz, mas aquela vilazinha era tão hospitaleira, como era possível não haver ninguém ali parece o recebê-lo?!
O rapaz desce do trem, devagar, com cabelo grande, bar mal feita, camisa xadrez com apenas alguns botões abotoados, com uma mão ele carregava a mala,  a outra estava enfiada profundamente em teu bolso. Apesar da sua aparência não ser uma das melhores, aparentava ser algum jovem rapaz da cidade grande, de classe média alta, ninguém sabia o que ele queria nem o que ele pretendia fazer em Santa Maria, como o costume do ser humano, todos tiravam concepções sobre ele, vários conceitos.
_Ah! Deve ser um fugitivo da lei.
_Pode ser algum fotógrafo, escritor, jornalista...

Todos estranhavam o rapaz estranho. Após descer do trem, o jovem rapaz caminhou na direção leste, onde o sol nasce (não se sabe se foi uma escolha ou uma mera coincidência).  Caminhava lentamente, prestando atenção em tudo o que via, passa pela a única rua asfaltada da vila, onde a casa mais bonita se localizava, a casa era do Dr. Augusto, o homem mais popular dali. No portão de sua casa havia uma placa ‘’ Procura-se jardineiro, não precisa ter experiências e damos lugar de morar’’  era perfeito para um fugitivo, um escritor, fotografo ou um jornalista, era perfeito para um migrante, o  jovem rapaz bate naquele imenso portão, o próprio Dr. Augusto atende.
_Vim para a entrevista para a suposta vaga de jardineiro! Diz o rapaz.
_Não precisa de entrevista meu jovem, qual é o teu nome?
_David.
_Venha David, lhe mostrei a casa e onde ficará, já está contrato, amanhã de manhã você começa, pode ser?
_Pode ser sim.
_Olha, o trabalho não é difícil, você rega as flores, apara a grama e não deixa nenhum inseto estragar o meu jardim. O horário é você quem escolhe.
_Tudo bem!

David fala pouco, conhece o quarto onde ele irá ficar, já desmonta a sua mala e se deita. No dia seguinte acordar ao amanhecer com o canto do galo, encaminha em direção ao jardim e começa fazer o que lhe foi mandado.Isso se repetiu por várias manhãs, até que em uma bela manhã de inverno, David pega um resfriado, nada demais, mas era algo que alteraria o horário do seu serviço, ele naquele dia foi cuidar do jardim ao entardecer. Cuidava do jardim como se fosse seu, falava pouco, ainda era motivo de observação para os curiosos de plantão, nada que lhe incomodasse, David cantava baixinho, quase nem dava para ouvir, batia os pés no ritmo de sua música e assim fazia o teu serviço, quando quase acabando de cuidar do Jardim, o jovem rapaz ouve uma música instrumental de longe, era LE IT BE de The Beatles, o som via de um dos quartos da casa, David largou a pequena pá e o regador no chão, encaminhou-se em direção aquela janela, com movimentos leves, pois não queria assustar ninguém, ele olhou pela janela e viu uma mulher de costas tocando em um piano branco, uma moça que usava um grande chapéu...
_Encantadora, não? Pergunta o mordomo da casa.
_Sim! Responde o rapaz assustado, não esperando a chegada do mordomo.
_Ela é a esposa do Dr. Augusto?
_Não, o Dr. Augusto é viúvo, essa moça é a sua filha, a única herdeira disso tudo. Responde o mordomo.

David sorrindo vai para o teu quarto, toma o teu banho e deita-se, dormiu ao som da lembrança da melodia que aquela moça desconhecida de chapéu grande tocava em seu piano branco, e todos os dias, aquele rapaz ia trabalhar ao entardecer, ouvindo LE IT BE instrumental.
Certo dia, após o seu serviço feito, o Dr. Augusto, avisou o jovem rapaz que no dia seguinte iria ir a cidade grande fazer compras e o chamou para ajudá-lo, eles iam a tarde, deixando automaticamente o serviço de David para aparte da manhã. Ao amanhecer David se encaminha para o jardim, cuidando primeiro das flores, quando abruptamente o perguntam.
_Bonitas não? Era a moça do piano branco.
_Sim, são lindas! Responde o rapaz.
_Bromélias, são as minhas preferidas, qual você prefere?
_Não entendo muito, mas também gosto das bromélias...
_Meu nome é Rosângela, mas todos me chamam de Rosa.
_Prazer, me chamo David e não teu pseudónimos, mas se tiver algum em vista. (risos)
_Prefiro evitar, sou bem malvada com pseudónimos. (risos)
_É, preciso ir, vou na cidade com teu pai, irei ajudá-lo.
_Bom, então qualquer dia.
_Até.

David vai para a cidade com Dr. Augusto, pensativo, pensava na Rosa, não nas que ele tinha que cuidar e sim a que ele queria cuidar. A partir daquele dia eles mantiveram contato,  cada dia mais intenso, Rosa sempre usava chapéu e nunca tirava, David estranhava aquilo, mas nada iria perguntar.
Era sábado de manhã, o jovem rapaz cuidava do jardim, Rosa chega por trás e lhe tampa os olhos, com os olhos tampados ela o beija, beija e sai correndo, ele se vira e vê ela de costas correndo, David fica encantando mesmo sem saber o que estava acontecendo, naquela tarde Rosa não tocou como o de costume a música LE IT BE e sim toca uma música mais nostálgica e nacional, uma música que previa a morte ‘’ ASSENTAMENTO-CHICO BUARQUE’’
David estranha a variação musical de Rosa, ele vai ao jardim, pega as bromélias mais linda e lhe faz um buquê de flores com um pequeno poema.

‘’ Não seja como as rosas de plástico.
Que são eternas, mas são desprovidas de beleza e não tem nada demais para nos oferecer.
Mas seja como as rosas naturais.
Sensíveis, que precisam de cuidados especiais e que sem esses cuidados vai morrendo aos poucos, com a sua simplicidade chama a atenção de todos e sabe bem como fazer uma pessoa apaixonada abrir um sorriso’’
David vai até o quarto de Rosa e deixa o buquê e o poema em cima do piano branco, depois retornar para o seu quarto e se deita, ficou a noite toda imaginando a reação de Rosa.
Amanhecer, David acordar antes do galo cantar, vai para o teu jardim esperando a moça...O jovem rapaz estranha a movimentação de pessoas desconhecidas na casa, escuta também soluços de choro, encaminha-se então para a janela do quarto de Rosa e vê que o buquê e o poema ainda estavam ali, do mesmo jeito, em cima do piano, logo vem o mordomo e diz.
_Ela era adorável.
_Como assim, era? Pergunta o rapaz assustado.
_Rosa, tinha uma doença a qual ninguém sabe qual é, uma doença que de tão forte, fez cair os teus cabelos, a obrigando usar chapéus sucessivamente.
_Não sabia, ela não me disse nada, cadê ela?
_Ela...todos dizem que os mortos vão para o céu, se isso não for mito, é lá que ela está agora.

David desorientado,  sem saber o que fazer, o que falar, vai para o quarto de Rosa, senta no banquinho em que ela acostumava sentar quando tocava, olha pro chão e vê um pedaço de folha, com um pequeno texto escrito.
‘’Se os mortos vão para o céu, o meu lugar deve estar reservado, foi bom te conhecer, não queria que se apaixona-se por mim para sofrer depois, seria egoísmo meu, sei que mesmo não parecendo, pensei primeiro em ti quando não revelei meus sentimentos, você me ensinou a sorrir de novo, foi difícil como uma criança aprende a andar, sei que talvez o meu erro seja imperdoável mas fiz por amor. Cuide das nossas bromélias, eu fui embora mas eu nunca direi adeus. ‘’
Rosa.
David não chora, mas sente no fundo aquelas palavras pesar no coração. No dia seguinte, ele pega as suas coisas e vai embora, desce em outra vila ou cidade qualquer, e é mais uma vez um sujeito estranho para todos, e tudo novamente se repete, só muda o lugar e as pessoas. David vaga por novos vagões em novas estações procurando aquilo que vê nos filmes e lê nos livros. ‘’ E se o amor não for um mito, eu o encontrarei, nem que seja no lixo’’

Um comentário:

  1. Me lembrou o filme 'um amor para recordar'...
    O tipo de texto que me preende até o final, mesmo sabendo oq vai acontecer...


    Beijos :*

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